domingo, 18 de janeiro de 2009

Artigo




Sobre amor, progresso e solidão


Em meio a tanto progresso e avanço tecnológico que vivemos hoje, é interessante constatar como as relações afetivas continuam conservadoras e obsoletas. Vivemos constantemente na premissa do amor romântico onde o outro tem que nos servir constantemente, isto é, o outro se torna um objeto que tem de me fazer feliz e fazer com que me sinta completo e desejado.

Em meio a tanto discurso de progresso, hoje o que se busca não é uma relação onde existe individualidade, respeito, felicidade e o prazer de estar junto. Prevalece ainda a relação de dependência em que um responsabiliza o outro pela sua felicidade ou tragédia. O amor romântico nos mantém presos e divididos.

Ficar sozinho se torna algo parecido a ficar doente, sinônimo de infelicidade e derrota. Este processo de divisão onde só posso ser feliz encontrando minha metade historicamente tem levado a mulher ao cárcere da submissão. Ela abandona seus projetos para se amalgamar ao projeto masculino. Essa é a intenção do amor romântico: o outro tem que saber o que não sei e vice-versa. Uma idéia funcional pratica e trágica.

A idéia de hoje deveria ser parceria. Deveríamos trocar o amor de necessidade, pelo amor de desejo, isto é, eu gosto e desejo a companhia do outro, mas não necessito o que é bem diferente. É interessante constatar que com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, paradoxalmente as pessoas morrem de medo de ficar sozinhas e não aprendem a conviver bem com elas mesmas.



A globalização que deveria nos aproximar mais, pelo contrário, deixam as reféns de relações que continuam a ser de dominação e concessões exageradas. A idéia de alma gêmea nada mais é do que a invenção do outro ao nosso gosto e prazer.

Não deveríamos mais nos sentir metades nem fragmentados. Somos inteiros. O outro que se estabelece o elo não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas mais um companheiro de viagem. Estamos na era da individualidade, porém nos tornamos egoístas. A individualidade não tem nada a ver com egoísmo, pois o egoísta sempre se “alimenta” da energia do outro seja ela financeira ou moral.

Em tempos modernos, o amor deveria ter mais sentido, feição e significado. Deveria unir pessoas inteiras e não juntar metades. Esta nova relação só será possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o sujeito conseguir trabalhar sua individualidade mais estará preparado para um encontro fundamental.

Às vezes a solidão é boa, ficar sozinho não é algo que temos de nós envergonharmos, ao contrario, ela dá dignidade a pessoa e boas relações são bem parecidas com ficar sozinho. O paradoxo da alteridade é esse: estamos unidos, porém separados. Ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem.

Deveríamos ficar sozinhos de vez em quando para construir um diálogo interno e descobrir nossa força pessoal. Na solidão, ainda que indesejável companheira, o indivíduo compreende que repouso e a paz só podem ser encontrados dentro dele mesmo e não a partir do outro.


Ao perceber isto, nos tornamos mais tolerantes e compreensivos em relação as diferenças respeitando a maneira e o limite de cada um. Na contemporaneidade o amor de duas pessoas inteiras seria bem mais interessante e saudável, pois neste tipo de ligação há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado.
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Sociedade patriarcal, mulher e alienação

Em qualquer tipo de sociedade em que a família se estabelece como um lugar sagrado em torno da figura do pai, a condição masculina encontrará motivos para se converte num privilégio fundamental. A essência do humano será identificada com o masculino, com a potência viril, com a paternidade.

Em uma sociedade patriarcal, a mulher, destituída da essência humana do masculino, ficava ou fica condenada à marginalidade. Sua função vital consistirá em adaptar-se às exigências do varão, sacralizado como a própria família.

Em detrimento de sua condição sexual, a mulher fica reduzida a ocupar uma posição de objeto em relação ao homem e a reduzir o sentido de sua existência à biologia de seu corpo: ser esposa e mãe. É interessante constatar que grande parte das mulheres tem uma grande, se não for a maior, necessidade, mas não desejo, de ter uma família e filhos.

Quando a mulher fica reduzida à condição de objeto e acorrentada por inteiro às suas funções biológicas, perde sua voz e palavra. Um objeto não fala nem deseja. Por isso a mulher só pode está disposta e atenta a ouvir a voz e desejo do único sujeito, o homem. Não é muito difícil encontrar “mulheres escravas” cuja função é ficar no lar e servir seus maridos em todos os sentidos ficando reduzida à condição de objeto. Nem vamos falar aqui sobre o controle dos homens , evidente que não são todos, frente as mulheres no que tange ao vestuário e aos cosméticos.

A negação da sua sexualidade pelo enclausuramento no mundo terno e afetivo da maternidade conduz ao investimento de seu próprio corpo como único objeto de amor permitido, de maneira a acentuar uma posição narcisista.

Este narcisismo feminino, além disso, é socialmente estimulado e favorece sua conversão em objeto erótico do homem, a quem deve seduzir e atrair de forma passiva. Outro ponto relevante aqui em questão da passividade é que em na esmagadora maioria, a mulher alienada sempre pensa que é função do homem conquistá-la e, que se fosse o contrário, este não a valorizaria. Por quê? Somente assim pode chegar a ser única coisa que lhe foi permitido ser: Esposa e mãe.

Quando uma mulher fica reduzida a condição de objeto erótico, ela emprega toda a sua força em manter-se como tal: jovem, atraente, “feminina”, agradável, para o homem. Não é à toa que a mídia sabendo disso explora de uma maneira perversa a mulher em programas de auditório e em propagandas diversas como de vestuário e cosméticos que são totalmente direcionadas ao publico feminino. Mas tudo isso a partir de uma posição passiva. Sua iniciativa de se manter secreta. Qualquer expressão de desejo sexual a torna digna de suspeita, porque o sistema social convencionou que alternativa à mãe é a prostituta.

Isso fica claro quando percebemos que grande parte das mulheres julgam de uma forma covarde quando uma outra mulher expressa mais sua sexualidade. Podemos dizer que homens sofrem com isso, porém com muito menos vigor. Tudo isso acarreta uma perigosa divisão entre a corrente especificamente sexual e a corrente afetiva. A negação do primeiro é utilizada para um hiperdesenvolvimento da segunda, provocando uma série de problemas de cujas conseqüências o homem também é vitima.

Mulheres não são objetos, um instrumento que se usa e uma propriedade a dominar e destruir. São sujeitos, portadora de um desejo e de uma palavra. Jamais permitam ser escravizadas, torturadas, subjugadas por um outrem. Não se alienem. O ser humano nasceu para ser livre e não ao contrário. Ninguém veio para estas terras para serem servos de ninguém. Tratar a mulher como objeto é uma perversão, uma visão reducionista e preconceituosa, reflexo da cultura machista, que privilegia problemas de alcova - situando os principais pecados da humanidade nos quartos de dormir deixando fora do debate às verdadeiras questões éticas.